Entrevista realizada a Masami Kurumada em meados de março de 1987 pela revista japonesa "Pafu", publicada na edição #4, à venda em 13 de abril.

Close Up ´86


Masami Kurumada

Saint Seiya é adaptado em anime, e o mangá de Kurumada uma vez mais explode em popularidade. Isso se tornou o foco do ano fiscal de 1987.

A publicação de Saint Seiya comemorou seu primeiro aniversário, quais são seus pensamentos depois de estar desenhando sem parar durante esse tempo?

Você pode ver isso nos desenhos, né? Graças às crianças, isso se tornou anime e parece ter se tornado um grande sucesso, já que tem brinquedos e discos (OST) à venda.

O anime vai ao ar toda semana.

Isso mesmo. Eu gravo em vídeo para poder assistir. Quando vi a abertura pela primeira vez, fiquei impressionado. Tem a adição de efeitos sonoros, música e além disso, os personagens falam. O fato dos meus desenhos se moverem me emocionou profundamente.

Você fez alguma petição para a animação?

Eu não pedi nada em particular. Eu acho que anime e mangá são coisas diferentes. Além disso, como eu não sei muito sobre animação, eu confio totalmente a eles, já que eles são produtores de anime. Estou satisfeito com o resultado. É uma animação moderna com excelente qualidade. No começo não sabia muito bem como seria, mas foi um fato afortunado poder contar com o senhor Shingo Araki, famoso por criar belos personagens. Assim que foi escolhido como desenhista de personagens não
poderia reclamar dizendo: "Ele não é melhor do que eu". (Risos)

É surpreendente, mas Saint Seiya é sua primeira obra animada, não é?

Isso mesmo. Houve até mesmo pessoas pedindo o anime de Ring ni Kakero e Fuuma no Kojiro, mas junto com essas vozes, havia também aqueles que não queriam e disseram coisas como: "Esses desenhos são uma porcaria". Mas com Saint Seiya não parece haver muitas queixas sobre o fato de que os desenhos são diferentes ou sobre alguma voz de um personagem que eles não gostam. Como espectador, acho que o anime de Saint Seiya é um trabalho bem feito. E a música também.

Com mangás e animes em plena realização e escutando a música, podemos dizer com alegria: "Ah, estamos conseguindo!". Depois de tudo, a televisão é poderosa. Mesmo as crianças que não conhecem o mangá, mas assistem ao anime, podem descobri-lo e dizer: "Ah, existia uma obra como esta?!" Isso se tornou um grande apoio para o mangá. A animação é bem-vinda porque expande a estrutura da obra original.

Parece que o senhor Kurumada tem muitas jovens fãs. O número aumentou com Saint Seiya?

Isso mesmo... Mas por que isso acontece? É porque as garotas têm uma vantagem quando se trata de apreciar o mangá original, já que fazem cosplay em convenções e muitas se entretêm realizando fanzines. Sua presença se faz notar, né? Afinal de contas, acho que a maioria dos fãs são garotos entre 12 e 13 anos. Se disser que existem muitas garotas entre eles, talvez não seja porque o número total de leitores da Shonen Jump cresceu? Portanto, os que eu tento cativar principalmente são os garotos entre o 4° ano do primário e o segundo ano do ensino médio. Eu tenho que desenhar uma obra que eles digam: "Isso é interessante!"

Por essa razão, ao invés de desenhar bons mangás, tenho que desenhar aconteça o que acontecer mangás divertidos. O objetivo do mangá do Kurumada é ser um mangá que, quando as crianças o lêem, o entendem com facilidade e podem se entusiasmar, independentemente de críticas. Especialmente hoje em dia, muitos deles sofrem com o bullying, mas quando lêem o mangá de Saint Seiya eles esquecem disso por um momento. É por isso que quero que eles mergulhem nesse mundo... Minha intenção é que para eles isso se torne uma espécie de viagem fantástica.

Você chegou a ver fanzines de Saint Seiya?

Às vezes me mandam alguns e eu os vejo. Recentemente eles fizeram coisas muito boas, né? Bem, eu acho que está tudo bem enquanto se divertem, né? Mas se houver adultos envolvidos fazendo dinheiro com isso, acho que se tornaria algo desagradável. Eu acho que se as crianças se divertem com paródias e coisas nesse estilo, não me incomoda nem um pouco. Mas se eu ver alguém que visa os lucros, então teria que pedir a essa revista que pare de publicá-lo.

Saint Seiya é uma obra que o entusiasma?

Tem estado durante muito tempo. Mas o faço de uma maneira diferente de quando eu tinha 22 ou 23 anos, e isso é porque agora eu sinto que já alcancei meus objetivos. Eu desenho há mais de 10 anos desde que eu tinha 20 anos e Otoko Zaka foi a única obra que não conseguiu o primeiro lugar uma vez sequer. Por essa razão, comecei com Saint Seiya pensando que deveria desenhar algo que fosse aceito pelos leitores. Nesse sentido, tornou-se um grande sucesso, né? O anime está sendo feito e os produtos dos personagens estão à venda. Pode-se dizer que com isso consegui me recuperar da queda que tive com Otoko Zaka. Não era muito popular, né? (Risos) Você não pode publicar na Shonen Jump se você não o fizer de maneira agressiva. Não será suficiente que algumas pessoas pensem que o seu trabalho é bom, se você não possuir um espírito combativo do tipo "Eu vou desenhar mangás mais interessantes do que os demais!"

Desenhou um oneshot intitulado "Shaka", publicado no número 13 da revista, né?

Conta o passado do Ikki. Mas acho que ainda há muito o que desenhar. Por exemplo, sobre Shun, como um homem tão fraco quanto ele se tornou tão forte desde que chegou à ilha de andrômeda? Ou sobre o Hyoga e seu mestre que ele matou... No entanto, não posso desenhar tão facilmente, já que a história principal tem que avançar e tem uma prioridade maior. Foi muito bom que nesta oportunidade pude desenhar a história de Ikki em um oneshot. De qualquer forma, Saint Seiya ainda está em sua parte inicial. Nas cartas que os leitores me enviam, vejo que ainda têm dúvidas sobre certos pontos, por isso vou ter que esclarecê-las.

Parece que o que está por vir será interessante.

Quero que assim seja, porque a vida de um mangá depende de ser interessante.

Quais são as suas ambições para este ano (1987)?

Como mangá tem vida, toda semana eu sou obrigado a sofrer até o último minuto com os prazos de entrega, então eu me pergunto se este ano a mesma coisa vai acontecer. Eu gostaria de fazer um trabalho muito bom, da mesma magnitude que o meu sofrimento. Bem, este será outro ano em que vou resmungar de novo e de novo.

Para finalizar, o que você gostaria de dizer aos leitores da Pafu?

Obrigado por levarem a série ao primeiro lugar. O que eu faço hoje não mudou desde os velhos tempos. Eu venho fazendo o mesmo há 10 anos e continuarei a fazê-lo no futuro. E isso porque acho que um profissional é aquele que sabe persistir nisso. Alguém me disse que há muitas pessoas com boas intenções, mas por mais que tenham alcançado 1 ou 2 volumes compilados, a questão é quantos anos ou décadas eles podem durar. Por isso, faço isso há 10 anos, mas continuarei a dar o meu melhor pelos próximos 20 anos. Tentarei não perder de vista as coisas interessantes que as crianças gostam tanto. Esse é o dever de um vendedor de mangás, né?

Por favor, continuem me dando seu apoio no futuro.

Entrevista traduzida e revisada em 2019
Entrevista traduzida e adaptada do espanhol diretamente do Pafu (1987) do Grupo Next Dimension

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