Entrevista realizada a Masami Kurumada na
revista Newtype, publicada em novembro de 1994. Naquela época, o mestre começou
com a produção de B't X, seu primeiro e único mangá sobre robôs, em uma nova
editora, Kadokawa Shoten.
A nova série B't X é o primeiro mangá de
Kurumada sobre robôs, né?
Desde
o final de Saint Seiya, eu pensava o tempo todo: "Se eu mantiver esse
mesmo poder, que tipo de "kurumanga" seria bem recebido pelos
leitores?" Tinha acabado de perder esse poder fazendo outras coisas que tinham
como base o judo ou o beisebol, por exemplo. Até agora, não entrei no mundo dos
mitos, como fiz com Ring ni Kakero e Saint Seiya. Mas deixando isso de lado,
inimigos poderosos são... Inimigos atraentes fazem com que os protagonistas
sejam. Eu pensei e me dei conta de que se eu fizesse algo sobre
"mechas" eu iria penetrar na essência do "kurumanga", sem
perder o poder que veio até agora. Então, isso será uma conversa sobre como
eu tentei fazer coisas sobre robôs, não é? Jamais pensei que acabaria desenhando
robôs.
Teve algum sentimento de resistência na hora de fazê-lo?
Eu tive muitas. Mesmo agora. Mas se eu não tivesse aceitado fazer algo sobre robôs, eu ainda estaria fazendo outra coisa nova em seu lugar. (Risos) Mas eu não sabia absolutamente nada sobre robôs, certo? Eu ouvi muitas pessoas dentro da equipe terrivelmente surpreendidos com isso. Além disso, não havia muitas ideias que não tenham sido utilizadas. Então me concentrei em coisas que não tinham sido usadas até agora. Depois de tudo, o "kurumanga" é um lugar onde se batalha com as ideias. Constantemente estou pensando: "Como faço isso?! Como faço isso?!" Portanto, desde que o projeto foi decidido, tenho lutado constantemente buscando ideias para este novo mangá sobre robôs.
Quais coisas foram mais importantes na hora de trabalhar essas ideias?
Não
queria, sob nenhum perspectiva, que as batalhas dependessem dos robôs.
Especialmente aqueles que estavam do lado do protagonista. Até agora, as
pessoas batalhavam em robôs, completamente cobertos e protegidos, né?
"Beta" dá a sensação de ser uma motocicleta em forma de cavalo, algo
como nunca antes visto. O protagonista luta montado nele, expondo-se também ao
perigo. Então, se o "mecha" for ferido, o herói também será ferido e
derramará seu sangue.
Uma das peculiaridades é o nome
"Beta". Que tipo de significado contém?
Porque
era um conceito completamente diferente do que era visto em mangás deste tipo até
agora, eu não queria chamá-los de "robôs". Algo grandiosos de Gundam
era que não usaram a palavra "robôs", mas os chamavam de "mobile
suits". Achei que aquilo era bom, então eu usei "B't" para
substituir a palavra "robô". Os significado de "B" são
vários, como "Brain" (Cérebro), "Blood" (Sangue), "Bravery"
(Valentia) e "Battler" (Guerreiro). Este "mecha" pensa com
seu próprio cérebro e funciona com sangue. Portanto, ele luta cooperando com o
protagonista, que se torna seu parceiro, e juntos vão evoluindo. O significado
disso também foi incluído.
Há uma dedicação na escolha dos nomes como
não houve em outros mangás de robôs até agora, né?
Isso
mesmo. Nomes são a coisa mais difícil para eu criar no "kurumangas".
É por isso que eu espremo meu cérebro ao máximo. Mesmo para um único nome, eu
coloco toda a minha alma e penso nisso até que minha cabeça se quebre. (Risos) Foi assim na época de Saint Seiya com a palavra "Cloth". Depois de
tudo, o frescor da história muda com apenas um nome.
Se alguém fala de "kurumanga", a
imagem da Shonen Jump aparece fortemente. Como você se sente trabalhando longe
da sua "casa" (em referência a Shueisha) neste momento?
Se
você pensar seriamente, o "kurumanga" e a Kadokawa Shoten não estão
relacionados? Isso também é algo que envolve robôs. Se nos referirmos ao mangá
de entretenimento de Kurumada, não é o melhor exemplo de mangá para pessoas
comuns. Mas a Kadokawa Shoten é forte na linha de entusiastas otakus, né?
Portanto, isso deveria ser chamado de "a aliança Satchô"? (Foi uma aliança entre os domínios feudais de Satsuma e Chôshû formada em 1866 para derrotar o Shogunato Tokugawa)(Risos) Se
nossa cooperação está próxima, dizem que poderíamos até mesmo derrubar o
sistema. Esta parte está ardendo neste momento, né?
Penso que deve haver uma grande pressão
quando a competição recebe 1 milhão de leitores constantemente.
Eu
não presto atenção aos números, porque já luto o suficiente comigo mesmo na
hora de escrever. O leitor se torna um problema a partir do momento em que o
trabalho está finalizado. Porque uma vez terminado, se é aceito ou não, isso
depende do cliente. Eu luto até que o capítulo seja vendido. Como faço para
desenhar mangás interessantes? Eu sinto que meu cérebro vai sair dos meus
ouvidos quando não consigo pensar em nada. (Risos) Quando eu não tenho ideia,
eu me pressiono até o último momento dizendo coisas tais como "você é um
porco incompetente!"
Isso é impressionante.
Portanto,
espero poder seguir fazendo mangás por mais 4 ou 5 anos. Mesmo depois de 20 anos
tenho conseguido manter o poder do "kurumanga". Para isso você tem
que conseguir um nível onde eles possam dizer que se trata de um mangá
interessante, depois de ter pensado ao máximo, para evitar usar as ideias dos
outros. Ideias são as mais importantes nos mangás. Se a princípio não há boas
ideias, o drama também é importante, sem dúvida.
Embora você tenha tido muitos sucessos, o
que você acha de suas obras que não tiveram popularidade?
O
que os leitores querem ler, nem sempre corresponde o que se quer desenhar. Uma
coisa é o que eu quero desenhar e outra coisa é que o mangá seja bem recebido.
É o mesmo que se passa com o Karaoke, por um lado você tem as canções que quer
cantar, e do outro, as canções que pode cantar. (Risos). A música que eu não
posso cantar é a que eu gosto, e a que eu posso cantar é a que não gosto.
Portanto, meu repertório de música é limitado. O trabalho com o mangá é
parecido com isso.
Quais são as suas impressões depois de ter
estado competindo no mundo dos mangás por mais de 20 anos, enquanto mais e mais
novatos estão chegando?
Eu
não tenho pole position neste mundo, porque em cada oportunidade sempre
partimos da mesma linha. Além disso, os novatos não sentem vergonha com o que fazem. Por isso, na época do Ring ni Kakero, eu fui capaz de batalhar com
isso, já que tomava como referência os mangás interessantes que eu li quando
criança, como os do Mitsuteru Yokoyama, para ter ideias. Mas adotar essas
referências só é permitido em novatos. Esse método de criação se torna cada vez
mais proibido à medida que você se torna mais veterano. Mesmo se você fizer
algo que já fez, Isso se tornará repetitivo. Outros mangakas podem fazer isso,
mas eu não posso. Portanto, você deve sempre pensar em coisas novas.
Para finalizar, por favor, nos diga o que
espera para o futuro.
Agora
vou colocar toda a minha alma em B't X. Mas depois disso, fiquem atentos! É tudo o que posso dizer.
Entrevista traduzida e revisada em 2019
Entrevista traduzida e adaptada do espanhol diretamente da Newtype (1994) do Grupo Next Dimension
Entrevista traduzida e revisada em 2019
Entrevista traduzida e adaptada do espanhol diretamente da Newtype (1994) do Grupo Next Dimension